Era uma vez um moleque gordo que cresceu dentro de um Opala e ficou marcado por isso pelo resto da vida...

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Movendo a montanha... de aço

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas agora era hora de buscar o carro. E eu me sujando de medo de não conseguir trazê-lo pra casa, de me deixar na mão no meio da rua etc. Afinal, ele estava na altura da passarela 35 da Av. Brasil, e eu morando no Rocha. Bota chão nisso...

Dinheiro na mão, bateria também, vamos recorrer ao meu cunhado e amigo Pereira (que vai ser citado algumas vezes aqui, devo muito a ele), que tem carro, pra me levar até lá e dar uma mão - ou uma corda - amiga. Ele vai sem problema, mas... Na última hora, adivinha quem entra junto no carro? Minha mãe e minha irmã. [Gulp...] Elas pediram carona a ele pra resolver um problema e, na última hora, me saem com essa:

- Mas vem cá, a gente não pode ir com vocês não?

[Suspiro] - Tá, né, mas vocês vão se arrepender...

Detalhe que elas não sabiam o que íamos fazer - muito menos o pandareco de carro que eu ia pegar... Minha mãe odeia copisa velha, e pra ela eu não passo de um maluco, pra dizer pouco.

Sete e tantas da noite de sexta-feira a gente chega lá, debaixo de chuva. Quando elas vêem o carro...

- Mas... é esse aí??!

- É, uai! Por quê?

- Ele não tem forração nas portas?!

- ... tá dentro do porta-malas.

- Eduardo, meu filho... quanto ele cara tá querendo nesse carro?

- Um barão, mãe. Não se preocupa, eu sei o que tô comprando, tem que fazer muita coisa nele.

- E você vai sair daqui dirigindo isso??

- [Suspiro] Assim espero, mãe.

E por aí vai. Mas, pra piorar, o carro não virava nem por decreto. Tentamos tudo: gasolina no carburador, ajustar a lenta... só não batemos tambor. Final das contas? Saímos de lá molhados, de mãos abanando, com minha mãe perguntando aos Céus onde errou e eu explicando por telefone à patroa que não estava levando o carro. O Guilherme (dono) se comprometeu a arranjar alguém pra resolver o caso e eu ligaria pra saber o resultado. Tristeza, tristeza...


Nasce a criança

Finalmente, na segunda-feira, recebo a notícia: o bicho viveu. E na terça, vou eu sozinho pra lá, rezando pro carro não desmontar na minha mão.

Conversa vai, conversa vem, testo o carro (duro e engasgando, mas ok), dinheiro pra lá, carro pra cá, apertamos as mãos e lá vou eu largar trintão na mão do frentista do primeiro posto. Já não consigo calibrar o pneu, os bicos estão muito afundados nas rodas serrinha de diplomata '88 (o Guilherme que comprou). Mil indicações sobre como chegar à Brasil e, chegando o crepúsculo, inicio a jornada, com uma nuvem de fumaças se misturando na minha cara. Estranho, né? Mas eu não achei, e segui em frente.


O primeiro "Aimeudeus"

Até o ponto em que eu peguei a saída errada e quase vou pro lado oposto da Brasil. Assim que eu vi meu erro, parei o carro e pedi informações.

- É facil, só seguir por aqui e virar embaixo da ponte, mas... o senhor já viu que seu carro tá fervendo?

Sim, eu já tinha visto. Essa era uma das fumaças que estavam invadindo o interior do carro - e das minhas narinas. Esperei um pouco, abri a tampa do radiador: absolutamente seco. Anoitecia, e o meu ânimo despencava junto com o sol.

Ligo pro Pereira, meus créditos acabam no meio do caminho. Mando uma mensagem pro Guilherme, não recebo resposta. Olho pro céu...

Passa um senhor, eu peço água pro carro. Ele ri, me empresta uma garrafa (nem isso eu tinha), me manda encher numa bica - a do vizinho, que também colabora. Completei e saí de lá com mais uma garrafa cheia, por precaução.

Errei mais algumas vezes, atingi a Brasil. Pra sair pra pista da direita foi outro parto: não conhecia as saídas, tinha medo da mudar (as setas não funcionavam), o carro fumaçando e a perna direita esquentando (um vapor caliente entrava pelo orifício do túnel central feito pra adaptar a caixa de câmbio no chão). Medo, muito medo.

Parei num posto perto de Bonsucesso, finalmente. E felizmente, porque a água já tinha secado toda outra vez. Fui encher a água, veio um senhor de regador na mão:

- É água?

- É, estou com um vazamento na mangueira, olha só. - A mangueira superior do radiador estava rachadana altura da braçadeira.

- Ah, pelamordedeus, meu filho! Cê não tem uma faca e uma chave de fenda aí não?

- [Vergonha] Não, acabei de pegar o carro...

Ele me puxa uma peixeira da cintura, corta a mangueira e coloca tudo no lugar, enchendo depois o radiador de novo. E me alerta pro fato de que não é o radiador original:

- Tá pensando o quê, meu filho?! Sou do tempo em que isso aqui era carro novo!

Dá um tapa na tampa do motor, que balança feiamente...

Muitos obrigados e uma caixinha depois, sigo viagem, pra finalmente chegar em casa fedendo a gasolina até os ossos e suado que nem cavalo de corrida depois do páreo.

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